Editorial

Desde os 11 anos, quando o saudoso Tio Magno me apresentou formalmente ao rock'n roll, eu já ouvia falar da sua morte anunciada. Felizmente o tempo segue contradizendo os boatos e o rock vai sobrevivendo e se solidificando. Continua sendo uma linha mestra para o seu público segmentado, uma mina de ouro a quem o explora de forma inteligente e uma dor de cabeça para quem por ele é criticado. Insiste em ser campeão de rentabilidade em turnês, vendas e downloads. Não cansa de ditar ideologias, comportamentos e movimentos. Apesar de uma expansão cada vez maior de outros sons e tendências, segue solitário na capacidade de criar ideologias, movimentar multidões em prol de um objetivo e fazer a gente se divertir e pensar ao mesmo tempo. Este blog é a minha maneira de agradecer ao rock'n roll pelos arrepios, suspiros, lágrimas e alegrias a mim proporcionadas até hoje. Aqui podemos discutir o rock de uma forma geral, analisar e debater seus fatos e ícones, seja por lazer ou mesmo como exercício crítico. Interaja! Mande suas postagens e sugestões, passe o blog a quem gosta de rock. Toda participação é bem vinda!! Longa vida ao rock’n roll e bom divertimento a nós todos!!

09 maio 2010

PINK FLOYD - HIGH HOPES

Fonte Foto: http://www.hitsdesclips.com

Após a saída de Roger Waters do Pink Floyd, em 1985, muito se questionou sobre a capacidade criativa da banda sem o seu mentor intelectual e genial compositor. Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii, chegou a brincar com a situação ao referir, na música “Tribos e Tribunais”, que “Pink Floyd sem Roger Waters lhe sugere muita sujeira, não lhe cheira nada bem”.

Haveria, então, vida para o Floyd após a briga com Waters?

Quase uma década depois David Gilmour respondeu essa questão com autoridade ao lançar, junto com Nick Mason e Richard Right, o espetacular “The Division Bell”, talvez um dos 10 melhores discos da década de 90.

O álbum é absolutamente brilhante, harmônico, melódico e com alma, talhado com o perfil indelével de Gilmour. Eu poderia falar dele e elogiá-lo por horas a fio, tamanha sua qualidade. Contudo, este post não é sobre o disco, mas sobre uma de suas mais estupendas faixas (a outra é a easy-listening “Lost for Words”).

“High Hopes” é a última música de “Division Bell”, e fecha o seu repertório com chave de ouro.

Sua introdução é belíssima. Um sino bate afinadíssimo com notas de violão e teclado, criando um clima absolutamente introspectivo, quase ansioso do que está por vir. Sua condução é magnífica, improvável, intensa. E o seu final... Ah, o seu final... O encerramento nos traz um dos maiores solos de guitarra de todos os tempos, talvez o mais “Gilmour” de todos os solos do Pink Floyd.

Assim como “Shine on You Crazy Diamond” e “Dogs”, “High Hopes” é uma canção longa, com variáveis que a tornam épica: a maravilhosa letra, as variações de ritmo, os elementos diferentes na introdução, o já mencionado excepcional solo de Gilmour.

“High Hopes” também traz consigo uma característica marcante do Floyd: a repetição marcada de algumas características peculiares de outras músicas da banda.

A condução de Gilmour no que se denomina “guitar tacet”, percebida entre os minutos 2:57 - 3:48 de “High Hopes”, é muito parecida com a ouvida em “Welcome to the Machine”, do álbum “Wish You Were Here”. Da mesma forma, assim como em “Grantchester Meadows”, High Hopes também tem sons de pássaros e insetos, além do som de sinos já percebidos na clássica “Fat Old Sun”, do não menos lendário “Atom Heart Mother”, uma das maiores obras primas do rock progressivo.

A letra de “High Hopes” é de Gilmour e de sua esposa, Polly Samson. Na essência, fala das dificuldades de Gilmour para deixar sua cidade natal, das perdas e ganhos na vida e de esperança. Além disso, aborda o egoísmo, o arrependimento e as mazelas oriundas da divisão e do individualismo dos dias de hoje.

Apesar de ser uma composição cheia de palavras difíceis e frases extremamente subjetivas, “High Hopes” é direta, simples e linda ao valorizar os sentimentos fraternais quando diz: “A grama era mais verde, as luzes eram mais brilhantes, o gosto era melhor, as noites eram maravilhosas, com amigos por perto”.

A história sobre a criação de “High Hopes” é extremamente curiosa. Para quem imagina que uma música tão trabalhada e detalhada tenha exigido muito tempo de maturação, Gilmour traz uma realidade completamente oposta:

“High Hopes era para ser realmente a última, uma espécie de final, de uma forma ou outra. É uma daquelas músicas que você trabalha de forma rápida mas bonita, quase imediatamente. Eu carreguei comigo algumas idéias em uma fita cassete, com apenas alguns compassos de piano, e fui para uma pequena casa em algum lugar com Polly, para tentar fazer algum progresso na escrita lírica. Ela me deu uma frase e muito rapidamente nós a escrevemos. Então voltei ao estúdio, com mais ninguém ali, a completei e coloquei em uma demo. Fiz tudo sozinho e posso dizer que ela se completou virtualmente em um único dia.”

Sir David Gilmour lançou um DVD esplêndido e altamente recomendado em 2002, chamado David Gilmour in Concert. Não creio que possamos chamar a versão de High Hopes lá existente de semi-acústica, como é o restante do show, mas ela é, certamente, um pouco diferente da original. As doze afinadíssimas vocalistas de apoio, a grande performance de Caroline Dale no violoncelo e em especial o solo final de Gilmour com slide/lapsteel, recheado de feeling, fazem valer cada segundo dessa obra prima do rock`n roll.

4 comentários:

Vicente disse...

Sensacional, Max.
Abração

Anonymous disse...

Grande Vicente, o mago das fotos! Muito obrigado pelo teu acesso e pela tua postagem. Sei que és um roqueiro de carteirinha. Seja sempre bem vindo!
Abraço, Max.

ENIO DETONI disse...

Divison Bell é um album magnifico - pode ser considerado um clássico, e High Hopes é de uma esfera músical gigantesca..definitivamente genial!!!

Anonymous disse...

Fala Detoni! Concordo... A outra música que comentei, Lost for Words... Tu já parou pra prestar atenção nela? Meu amigo, aquilo é uma obra prima... O disco todo é espetacular... Grande abraço, meu amigo! Saudades dos nossos papos roqueiros... Quando tu vem me visitar pra eu te entregar os teus dvds? hehehehe