Editorial

Desde os 11 anos, quando o saudoso Tio Magno me apresentou formalmente ao rock'n roll, eu já ouvia falar da sua morte anunciada. Felizmente o tempo segue contradizendo os boatos e o rock vai sobrevivendo e se solidificando. Continua sendo uma linha mestra para o seu público segmentado, uma mina de ouro a quem o explora de forma inteligente e uma dor de cabeça para quem por ele é criticado. Insiste em ser campeão de rentabilidade em turnês, vendas e downloads. Não cansa de ditar ideologias, comportamentos e movimentos. Apesar de uma expansão cada vez maior de outros sons e tendências, segue solitário na capacidade de criar ideologias, movimentar multidões em prol de um objetivo e fazer a gente se divertir e pensar ao mesmo tempo. Este blog é a minha maneira de agradecer ao rock'n roll pelos arrepios, suspiros, lágrimas e alegrias a mim proporcionadas até hoje. Aqui podemos discutir o rock de uma forma geral, analisar e debater seus fatos e ícones, seja por lazer ou mesmo como exercício crítico. Interaja! Mande suas postagens e sugestões, passe o blog a quem gosta de rock. Toda participação é bem vinda!! Longa vida ao rock’n roll e bom divertimento a nós todos!!

04 abril 2010

JANIS JOPLIN - UM CORAÇÃO SOLITÁRIO

Fonte da foto: www.imperadordomundo.blogspot.com.br

Janis Lynn Joplin... Há alguns instantes eu estava ouvindo sua mais bela canção, a fantástica “A Woman Left Lonely” e percebi que não podia deixar de homenageá-la. Essa música, aliás, diz muito sobre a carreira e a vida de “Pearl”, como era carinhosamente chamada. A letra dimensiona a solidão e a auto-destruição da maior cantora de rock`n roll e blues de todos os tempos, na minha modesta opinião. Os dois primeiros versos são muito diretos a respeito: “Uma mulher solitária em breve vai crescer cansada de esperar, ela vai fazer coisas loucas em seus momentos de solidão...”

Janis foi um marco feminino na história do rock. Sua voz forte e marcante e sua capacidade única de transformar angústias pessoais em lindas interpretações eram seus dons divnos. Só assim mesmo para que ela conseguisse ser a única vocalista branca a conquistar espaço de destaque entre as divas negras do blues americano. Joplin quebrou o estigma das garotas bonitinhas e comportadas cantoras de Folk.

Influenciada por grandes nomes do Soul, Jazz e Blues americano, como Billie Holliday, Bessie Smith, Big Mama Thornton, Janis alcançou sucesso sendo, além de talentosa, tão louca quanto os loucos da época e imprimindo seu estilo sensível ao rock`n blues.

Após obscura carreira solo inicial, Janis teve três momentos bem delineados em sua carreira, em relação às bandas que a acompanharam. De 1966 a 1968 Joplin esteve junto da "Big Brother Holding Company", com quem compartilhava intensas influências do Blues.

Com esta banda Janis fez uma inesquecível apresentação no Festival de Monterrey de 1967, dando um grande “up” à sua carreira. Em seguida Joplin formou nova parceria com “The Kozmic Blues Band”, tendo gravado com eles apenas um disco. Apesar da nova banda ter até mais qualidade que a anterior, não houve química entre Janis e os músicos. A dissolução era iminente e ocorreu logo após apresentação deles em Woodstock/1969. Ao final, para a gravação do que se tornou seu último disco, Janis formou a sua melhor banda: "The Full Tilt Boogie Band", com quem encerrou sua breve e intensa trajetória.

Infelizmente Janis tinha outros problemas além das crises existenciais e da solidão. Era um martírio para ela manter a sobriedade, sendo crônicas as suas dificuldades para manter-se lúcida. A heroína e o whisky (Janis adorava a marca Southern Confort) eram suas perdições e acabaram por abreviar sua brilhante trajetória.

A morte de Janis aconteceu em 04 de outubro de 1970, quando a “pérola branca do blues” estava no auge. No curso das gravações de seu novo álbum, produzido por Paul Rotschild (The Doors), Janis teve uma fatal overdose de heroína, acentuada pela ingestão de álcool. Curiosamente o óbito se deu após um período em que Joplin havia conseguido dar um tempo à bebida e às drogas.

Uma curiosidade mórbida… Três dias antes de sua morte, Janis gravou em uma fita a canção “Happy Trails” para presentear John Lennon. Eles eram amigos e John faria aniversário no dia 09 de outubro. O tape chegou à casa de John no dia seguinte à morte da cantora.

O álbum póstumo “Pearl” foi finalizado dentro do possível e lançado algumas semanas após a morte de Janis. Uma das faixas ficou sem o registro de voz dela, talvez pelo tempo dispendido para gravar o presente de John. “Pearl” é, na minha opinião, o melhor álbum de Joplin, o disco que efetivamente expressou tudo o que ela quis transmitir ao longo de sua carreira. Nele estão, entre outras clássicas, “Me and Bobby McGee”, “Mercedes Benz”, “A Woman Left Lonely”, “Cry Baby” e “Get it While You Can”. Discografia básica…

Aproveito para recomendar um filme que tem referências à vida de Janis. “The Rose”, de 1979, tem Bette Midler em estupenda atuação, fazendo o papel de uma rock star auto-destrutiva da cena hippie sessentista. Ao lado do recente “Ray” e da visão ácida de Oliver Stone para "The Doors”, considero o filme um dos melhores já feitos sobre música e rock`n roll.

Para 2010 está previsto o início das filmagens de uma real biografia de Janis, projeto que se arrasta desde 2007. Com o título provisório de “Gospel According to Janis”, o filme terá a atriz/música americana Zooey Deschanel interpretando Joplin, devendo ter direção à cargo do brasileiro Fernando Meireles (Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel).

Janis morreu jovem, com apenas 27 anos, mesma idade quem tinham, ao falecer, Brian Jones, Kurt Cobain, Jim Morrison, Jimi Hendrix e Robert Johnson. Felizmente, assim como todos eles, conseguiu deixar um belo legado e uma obra marcante e inigualável. Não há sequer uma cantora no meio do blues e do rock que seja contemporânea à Joplin que não a tenha como referência.

Todo o sentimento e intensidade de Janis estão em um vídeo gravado em Estocolmo/1969, que pode ser visto na internet.  Seu vigor na interpretação de “Summertime”, gravada , expressa tudo o que se disse sobre ela: melancólica, sensível, apaixonada pela música, e dona de um coração solitário. Como ela própria admitia, “É incrível como faço amor com 25.000 pessoas no palco e volto para casa para dormir sozinha.”.

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