Editorial

Desde os 11 anos, quando o saudoso Tio Magno me apresentou formalmente ao rock'n roll, eu já ouvia falar da sua morte anunciada. Felizmente o tempo segue contradizendo os boatos e o rock vai sobrevivendo e se solidificando. Continua sendo uma linha mestra para o seu público segmentado, uma mina de ouro a quem o explora de forma inteligente e uma dor de cabeça para quem por ele é criticado. Insiste em ser campeão de rentabilidade em turnês, vendas e downloads. Não cansa de ditar ideologias, comportamentos e movimentos. Apesar de uma expansão cada vez maior de outros sons e tendências, segue solitário na capacidade de criar ideologias, movimentar multidões em prol de um objetivo e fazer a gente se divertir e pensar ao mesmo tempo. Este blog é a minha maneira de agradecer ao rock'n roll pelos arrepios, suspiros, lágrimas e alegrias a mim proporcionadas até hoje. Aqui podemos discutir o rock de uma forma geral, analisar e debater seus fatos e ícones, seja por lazer ou mesmo como exercício crítico. Interaja! Mande suas postagens e sugestões, passe o blog a quem gosta de rock. Toda participação é bem vinda!! Longa vida ao rock’n roll e bom divertimento a nós todos!!

14 novembro 2010

PAUL McCARTNEY – REVIEW DE SHOW – 07/11/2010 – PORTO ALEGRE


Fonte foto: http://i1.r7.com

Esse post vai especialmente para grandes amigos que também vivenciaram o show do Paul e que são leitores assíduos do blog: Silvia, Rica, Bola, Boto, Tali, Neuton, Manô, James, e por aí afora...

Para você, o que é um dia especial? Na minha opinião é aquele no qual você vive momentos inesquecíveis, se depara com coisas inexplicáveis e convive com pessoas de atitudes incomparáveis.

Beira-Rio, Porto Alegre, 07 de novembro... Muita gente, confusão na entrada, camisetas pretas por todo o lado, cartazes, gente chorando por conseguir entrar no estádio... Sim, é o cenário esperado de um grande show de rock, o maior que o RS já presenciou. Às 21h10min, as luzes e os gritos de fãs de 15 a 70 anos anunciaram Paul.

Ao olhar para os telões confesso que senti algo diferente, um frio na barriga, um frenesi muito estranho. Percebi, então, que não estava na presença de um artista qualquer, como muitos que já assisti ao vivo. Era Paul McCartney, quem estava à minha frente... Um Beatle, um dos mais incríveis artistas da história. Esse feeling tomou conta do estádio, dava pra sentir no ar...

Após abrir o show com “Venus and Mars/Rock Show/Jet”, Macca começou a arrebatar o público com seu carisma. Em meio a cada música, um bem humorado Paul fez questão de se comunicar em português, desfilou com a bandeira brasileira e prestou muitas homenagens a seus amigos John/George, ao seu staff/banda e principalmente à platéia. Tudo isso com a simplicidade e o espírito simpático de um principiante, mesmo sendo ele a maior personalidade musical ainda viva.

Foram 2h46min de um show absolutamente inesquecível, com uma performance impecável de Paul e de sua magnífica banda em 35 músicas, com 02 retornos. O repertório foi muito bem equilibrado entre canções dos Beatles, dos Wings e da carreira solo de Paul.

O set list completo: Venus and Mars/Rock Show, Jet, All My Loving, Letting Go, Drive My Car, Highway, Let me Roll it, The Long and Winding Road, 1985, Let Me In, My Love, I've Just Seen a Face, And I Love Her, Blackbird, Here Today, Dance Tonight, Mrs. Vanderbilt, Eleanor Rigby, Ram On, Something, Sing The Changes, Band on The Run, Ob-La-Di Ob-La-Da, Back in the USSR, I've Got a Feeling, Paperback Writter, A Day in the Life/Give Peace a Chance, Let it Be, Live and Let Die, Hey Jude, Day Tripper, Lady Madonna, Get Back, Yesterday, Helter Skelter e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band.

Não vou discutir aqui se “Let it Be” foi melhor do que “Yesterday”, se “Eleanor Rigby” ou “The Long and Winding Road” fez mais gente chorar, ou se “Live and Let Die” animou mais o público do que “All My Loving”. Isso é discutir o sexo dos anjos.

Prefiro ressaltar alguns momentos pontuais do show como meus prediletos... Paul levantou o estádio com uma versão alucinada de “Ob-La-Di,Ob-La-Da”, tocada pela primeira vez em solo brasileiro, fez a platéia gritar (mesmo) “I don't know, I don't know...” na lindíssima “Something”, me arrepiou em “Band on the Run” (a canção que eu mais aguardava) e na psicodelia de "A Day in the Life", e após perguntar à platéia “Do you wanna rock'n roll?”, deu espetáculo na frenética “Helter Skelter”.

“Sir James Paul McCartney” tem 68 anos e está mais inteiro do que muitos quarentões por aí. Muitos associam sua longevidade musical à abstinência alcoólica e ao vegetarismo, mas se equivocam redondamente. Paul “mito” e Paul “artista” sobrevivem da energia irreverente de menino que ele carrega para o palco e da humildade de alguém que valoriza o carinho do público e nunca perde a chance de retribuir.

Durante todo o show Paul se divertiu, curtiu o momento junto com a platéia, transpareceu uma energia muito positiva... Em cada palavra que cantou, em cada nota que assobiou ou tocou, era visível que fazia com com amor, e isso é o que vai perpetuá-lo. A duração e a alegria do seu show são verdadeiras lições para algumas “novas figuras” do meio musical, que tem idade para ser netos de Paul e não tocam mais de uma hora e meia em seus “shows”, sem sequer mostrar os dentes.

No finalzinho, mais precisamente antes da última música (“Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”), Paul deu o golpe de misericórdia no que se refere à humildade e reciprocidade com a platéia... O que mais pode ser dito de um ídolo que interrompe o show para atender o pedido de duas fãs apaixonadas? Ao autografar os braços delas, Macca tatuou seu nome no coração de cada um dos presentes no estádio.

Na década de 90, uma letra de Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) lançou no ar um dos maiores dilemas da história do rock: “Afinal, o que é rock'n roll: os óculos do John ou o olhar do Paul?” Todos nós descobrimos a resposta naquele domingo, em um dia especial. Muito especial...

Abaixo, uma das grandes baladas acústicas de Paul, também cantada em Porto Alegre. “Yesterday” é a canção mais regravada da história do rock (registros oficiais de mais de 1.800 regravações até 2008), e sua história é no mínimo curiosa... Em maio de 1965 Paul estava dormindo na casa da namorada, Jane Asher, quando despertou na madrugada e foi ao piano, carregando uma incrível inspiração: as notas completas da canção que viria a se chamar “Yesterday”.

O vídeo é do show de Paul no festival de Glastonbury/UK, em 2004. Abraços a todos!

6 comentários:

Bernardo disse...

Show inesquecível realmente. Jamais poderia imaginar que um dia isso fosse acontecer....ver um Beatle de perto...foi demais.

Anônimo disse...

Realmente, Bernardo... Ver um Beatle de perto é algo indescritível!
Abraço e obrigado pelo comentário!
Max.

Unknown disse...

Grande verme!!!
irretocável teu post, o show foi isso ai mesmo, sensacional! Só me dei conta de quem eu estava para ver quando começaram a passar aquelas imagens nos telões, daí pra frente foi só adrena, não esperava um show tão perfeito. O Paul é foda. A banda é ótima também. Abraço!! JAmes

Unknown disse...

Grande Max,

Infelizmente não pude presenciar este show ímpar que pousou em solo gaúcho.
Realmente o Sir Paul é um ser especial. Teu post já diz tudo, nada a acrescentar...
O set list é de arrepiar, e a performance do Beatle, como tu dizes, "foi fodástica"!

Forte Abraço
BILL

Unknown disse...

E aí Max, showzáço hein?! Como meu irmão já disse, teu post esta irretocável. Foi uma noite surreal. Foi também uma lição pra quem tiver a dignidade de aprender que humildade pode vir dos grandes.

Memorável, inesquecível... só vai ser ruim assistir a outros shows e ficar pensando "o do Paul foi bem melhor", hahahaha!

rockrevista disse...

Bill, Manô e Pietão!
Obrigado pelos posts e palavras de vocês, figurinhas carimbadas entre os leitores do blog e grandes amigos!
Concordo com tudo o que disseram... Espero que todos nós possamos ter sempre a oportunidade de assistir shows desse quilate... Já preparem o coração, que devem vir Roger Waters em fevereiro e Ozzy em março!
Abraços!!