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Esse post de hoje é muito massa... Ao menos para mim, que me deliciei pesquisando a respeito. Dedicatória especial pra Simo, que utilizou essa música em sua formatura e para o virtuoso Rafael Raposo, que a toca como poucos.
Existem muitas músicas que agradam a todos, mesmo que quase ninguém saiba quem as canta/toca, ou praticamente saiba nada sobre ela. Lembra da marcante música instrumental da abertura do filme “Pulp Fiction”? Pois é... Ela tem nome, origem e história.
“Misirlou” é uma canção popular grega. Seu primeiro registro efetivamente relacionado a um artista data do longínquo 1927, por Michalis Patrinos.
A letra trata da intensidade do amor de um grego por uma garota muçulmana egípcia. A tradução da música original é mais ou menos esta: “Minha Misirlou, a doçura de teus olhos acendeu uma chama no meu coração; Oh, meu amor, Oh, minha noite, teus lábios gotejam mel; Oh Misirlou, mágica, exótica beleza enlouquecido de amor, não suporto mais, vou roubar-te da terra árabe; Minha Misirlou de olhos negros, teu beijo mudou minha vida; Ah, amada, um pequeno beijo de teus lábios tão doces.”
Após a iniciativa de Michalis, a canção foi regravada em vários estilos, entre eles o jazz e o orquestrado, até chegar ao rock, no início dos anos 60.
A versão roqueira, que mais nos interessa particularmente, é uma criação instrumental de Dick Dale e de sua banda, The Def-Tones, gravada em 1962. Antes de ser selecionada por Quentin Tarantino para “Pulp Fiction”, a música já havia sido trilha sonora de um outro filme, o bem menos aclamado “A Swingin Affair" de 1963.
Dick Dale criou a surf music no final dos anos 50. Tocava por diversão para sua turma de surfistas, na Califórnia, mas em um ritmo muito intenso para a época. Obviamente, começou a chamar a atenção de outros públicos, Recebendo o apelido de “The Beast”, pelo estilo potente e exótico. Pegada, velocidade, volume e feeling eram seus dotes.
“Misirlou” talvez seja a primeira música realmente relevante do surf rock, movimento que o próprio Dale iniciou ao agregar peso em seu próprio estilo, já no início dos anos 60.
A idéia da concepção da versão instrumental da música por Dale é bastante interessante. Conta-se que Dick foi intimado por um fã a tocar uma música em apenas uma corda de seu violão. Dale se lembrou de um tio seu, de origem libanesa, que tocava o instrumento para dança do ventre. Imediatamente a versão do parente para “Misirlou” veio à sua mente, e aí foi só transformá-la para o seu estilo mais “animal”.
Dick Dale começou a tocar guitarra aos 12 anos, é canhoto e toca com a guita invertida, sem virar as cordas. Coincidentemente ou não, reza a lenda que o monstro Jimi Hendrix, que tocava em uma linha parecida, foi aluno de Dick. Hendrix sempre teve uma enorme admiração por Dale sobre Hendrix, sendo que a música “Third Stone from the Sun” foi composta por Jimi em sua homenagem.
Dale sabe tocar 15 instrumentos musicais, entre eles bateria, harpa, piano e sax, além, é claro, de sua guitarra Fender. Aliás, sobre seu instrumento preferido surge mais uma daquelas deliciosas histórias do rock.
Ao conhecer e se impressionar com o jovem guitarrista, no final dos anos 50, o fabricante de guitarras Leo Fender pediu que Dick experimentasse uma de suas novas peças, a Stratocaster, e um amplificador também desenvolvido pela Fender.
Dale aceitou. Em um show, virou a guitarra de ponta cabeça e tirou daquele instrumento um som altíssimo, jamais escutado, explodindo os amplificadores que lhe davam suporte. Foram 49 amplificadores e dezenas de alto-falantes estourados na seqüência de suas apresentações, até que os engenheiros de som da Fender conseguiram produzir algo capaz de suportar a pegada de Dick. Esses modelos de amplificadores e falantes “reforçados” são os pais daquilo que o mundo musical conhece e consome hoje.
Dale também mudou a “engenharia” das guitarras. Valorizando a potência de seu som, Dick passou a exigir cada vez mais da Fender. Dale ia aumentando a tensão das cordas e a indústria precisou reforçar o braço do instrumento para que o mesmo pudesse suportar a pegada do “King of the Surf Guitar”.
O maior sucesso de Dick Dale é sua versão de “Misirlou”, indiscutivelmente. Poucas vezes uma música encaixou tão bem em um contexto quanto ela em “Pulp Fiction”, e em menos oportunidades ainda expressou tão bem o estilo de um músico: intensa, impactante, pesada, alternativa.
O cara e a música são fantásticos mesmo. Para quem não os conhecia pessoalmente, muito prazer...
2 comentários:
Excelente texto e homenagem ao grande Dick Dale, um dos maiores guitarristas vivos e constantemente subestimado. Porém eu não sei de onde você tirou que Dale foi professor do Hendrix. Teria alguma fonte neste sentido? Historicamente, Hendrix praticamente não saiu de Seattle até 1961 e depois disso foi pra Nashville, Nova York e Londres. Dale morava na California em todos os períodos nos quais ele poderia ter "ensinado" Hendrix a tocar guitarra. Além do mais, as influências de Dale são completamente diferentes de Hendrix, que era mais voltado para o blues. Para encerrar, você acertou com relação à posição das cordas do Dick Dale, mas o Hendrix tocava com as "invertidas" (na posição normal, com o bordão em Mi na parte superior do braço).
Sugiro que você revise o texto aqui e no Whiplash. Não falo isso por ser fanático pelo Dale nem pelo Hendrix até porque meu guitarrista favorito é o Tony Iommi. Falo isso como guitarrista canhoto que sou interessado pela classe. :)
Um conselho, reveja suas fontes, talvez elas estejam te traindo. Abraços!
Oi Bart!
valeu pelo comentário. Opiniões qualificadas como a sua são sempre muito bem vindas.
A informação que tenho é de que Hendrix foi, sim, aluno de Dale em sua juventude, e o homenageou com aquela música. Essa situação consta em vários sites de muitas partes do mundo, entre eles a Wilkipedia e o Songfacts. Entretanto, não quero ser o dono da verdade e estou ciente de que a internet pode nos pregar muitas peças. Posts como o seu são extremamente úteis pra enriquecer essa discussão e selecionar bem as informações.
Sobre as influências de ambos, elas são, claro, diferentes. Entretanto, é pacífico que ambos inovaram no modo de tocar guitarra, surgindo talvez daí a admiração de um pelo outro.
De qualquer forma, vou reescrever o texto de maneira a deixar esse fato em dúvida.
Por fim, a respeito da posição das cordas da guitarra do Hendrix, já corrigi o texto. Meu lado leigo me traiu nessa... Hehehehe...
Abração, meu amigo.
Max.
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