Fonte foto: http://2or3lines.blogspot.com.br
Quando ouço “Aqualung” sinto essa referência de inquitude, de ação descontínua... Sempre que escuto esse som a minha veia roqueira inflama. Para mim é muito presente a idéia de atitude transgressiva do óbvio, do irrequieto contraste entre a batida agressiva e a essência melodiosa.
“Aqualung” é a faixa título do melhor disco do Jethro Tull, um dos 100 álbuns mais importantes da história do rock, lançado em 1971. Tanto a faixa quanto a banda têm nomes que demandam grande curiosidade das pessoas. Eu já ouvi pérolas como “Jethro Tull” ser o nome do vocalista e “Aqualung” referir-se a equipamentos de mergulho...
A respeito do nome “Jethro Tull”, a banda londrina teve muitos outros antes desse, graças à influência de gravadoras/empresários no início da carreira. Esses intrometidos chegaram a cogitar excluir Ian Anderson dos vocais e eliminar a idéia da flauta, sob o argumento de que o som deles se tornaria mais comercial.
Felizmente a banda se rebelou, chutou para longe os palpiteiros e escolheu o nome Jethro Tull (britânico inventor da semeadeira elétrica). Ao lançar seu primeiro álbum, em 1968, os integrantes também elegeram Ian como vocalista, flautista e homem referência do grupo, definitivamente quebrando o pau com seus empresários da época.
Bem, mas o post é sobre a canção “Aqualung, então vamos direto ao assunto... Esta música é, sem dúvidas, o cartão de apresentação do Jethro Tull. Seu maior sucesso comercial, sua obra prima virtuosa.
As idéias da letra e do conceito a respeito da canção surgiram a partir de uma fotografia de um sem teto idoso e sujo, fotografado pela esposa de Ian, Jennie Franks, durante uma caminhada às margens do Rio Tâmisa, em Londres.
A partir disso, e como aconteceu com várias outras canções da banda, um personagem fictício foi criado em cima de um caractere inspirador real. No caso, a figura é um homem socialmente desonrado e rebaixado à escória, um vagabundo morador das ruas, batizado de “Aqualung”.
A letra tem três elementos principais: a descrição real de algumas características deprimentes do pobre coitado (“ranho escorrendo por seu nariz... dedos engordurados... roupas velhas...”, o esboço de sua personalidade deturpada (“espiando as garotinhas com más intenções...”) e o sofrimento que ele experimenta nas ruas (“se agachando para pegar os restos de um lanche...”).
Ian, em uma entrevista em setembro de 1999, falou sobre as fontes inspiradoras de “Aqualung”: “Eu tinha sentimentos de culpa sobre os desabrigados, assim como o medo e a insegurança das pessoas com aquilo que parece um pouco assustador. Eu suponho que tudo isso foi combinado com uma imagem um pouco romantizada da pessoa que está sem teto, mas ainda um espírito livre, que não quer ou não pode participar em formatos prescritos na sociedade.”
E isso está refletido na melodia e na letra... Após a descrição impiedosa de Aqualung no primeiro verso, com um ritmo mais pesado, na segunda parte a música se torna acústica e a letra começa a falar do mendigo com compaixão. Se no primeiro verso Aqualung era um desgraçado sem valores, em seguida ele já passa a ser um velho solitário errante. É como se Ian expusesse a todos os problemas de Aqualung e em seguida o acolhesse por pena, como um símbolo de abandono social.
A música também traz consigo elementos bem interessantes em seus 6min34seg... A influência de Beethoven foi admitida por Ian e é pecebida com a semelhança de alguns trechos com a Quinta Sinfonia. A excelente performance do guitar man Martin Barre rendeu elogios de Jimmy Page, em janeiro de 1971. O Led Zeppelin gravava o magnífico “IV – Zoso”, no mesmo estúdio, na porta ao lado. Diz a lenda que Jimmy assistia a gravação do Jethro e ao ouvir o famoso “corte” no solo feito por Martin entrou na sala de gravação e “deu a benção” ao que acabara de ouvir.
Muitos tentam classificar “Aqualung” e o próprio Jethro Tull quanto ao estilo... Creio ser uma tarefa bastante difícil, mas a mim parece que Ian Anderson e sua trupe são uma banda essencialmente progressiva, com fortes influências do rock psicodélico, do jazz, do blues (ouça o primeiro disco deles), do próprio hard rock e até mesmo do folk rock.
Se por um lado é complicado ter uma estrutura musical pouco ortodoxa e bastante diversificada, por outro isso é um grande benefício, é isso que eterniza alguns roqueiros... Quem, ao ouvir aquele vocal inconstante, o estilo inconfundível da melodia e a flauta de Ian, não identifica aquele som imediatamente como Jethro Tull?
Abaixo, vídeo sensacional de “Aqualung” em memorável show realizado em 07/02/1977, no Golders Green Hippodrome, Londres. Abraços a todos!
6 comentários:
Boa Max, grande retorno com um grande som, continua escrevendo aí que tá massa. Grande abraço meu velho! -Duda
Grande Duda! Obrigado pelo teu post!! Sábado tem Subdivisions lá no Joe... Que tal? Abraço, mermão!!! Max.
Parabéns Max pelo retorno.
Prá variar grande escolha.
Vc andava de triciclo e eu já gostava do Jethro Tull.
Que tal um video do Subdivisions com o Sunset Riders?
Um abraço, até sábado, Neuton
Grande Neuton! Obrigado pelo post...
A gente vai conhecendo o que é bom e aprendendo com a geração anterior à nossa. Tu me influenciou a gostar muito de The Who, banda a qual aprendi a gostar mais por seus somentários. Falar com você sobre música é sempre uma lição.
Tenho uma idéia de entrevista com o Sunset para a postagem do dia 17/10 ou 24/10, semelhante à que fiz com o Fernando Noronha, e aí certamente com o vídeo da fantástica Subdivisions. Eu tenho uma passagem de som deles no Joe, tocando Subdivisions, que até foi tu que me mandou... Pensei em usar ela, ou até algum outro vídeo deles tocando ela, se houver... Vou falar com a banda no sábado e ver se eles topam. Obrigado pela sugestão e lembrança!!!
Grande abraço!! Max.
Parabéns pelo trabalho. Gostei muito.
Obrigado por ter passado lá m casa.
Abraços.
Pirata
Grande Max!
O blog ficou melhor ainda. E este post do Jethro está muito bom. Aqualung é um dos dois cd's que não saem do carro nunca!
Abraço.
Delano
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